Um dado que assusta
Sabia que muitos jovens relatam comparar sua vida com o que veem nas redes sociais e se sentirem “menos” por causa disso? Pesquisas mostram que o uso intenso de redes sociais pode levar à comparação excessiva, insatisfação com o corpo e queda na autoestima entre adolescentes.
E o mais preocupante é que esse efeito, muitas vezes sutil, começa muito cedo — antes mesmo de as crianças entenderem completamente o que estão consumindo. Os algoritmos aprendem seus interesses, moldam o que elas veem e, pouco a pouco, influenciam como elas se enxergam, como se relacionam e até o que acreditam ser “normal”.
Diante desse cenário, o papel dos pais deixa de ser apenas o de limitar o tempo de tela. É sobre construir diálogo, ensinar crítica, acompanhar de perto e, sobretudo, ajudar a criança a desenvolver uma identidade sólida que não dependa dos likes, das tendências ou das bolhas digitais.
Como algoritmos influenciam identidade
As plataformas sociais usam algoritmos que decidem o que aparece nos feeds das crianças. Isso cria um ciclo de “validação” através de curtidas, seguidores e comentários. Quando o jovem vê continuamente modelos de beleza, sucesso ou estilo de vida “ideal”, ele tende a se comparar — e isso molda como ele se enxerga.
Além disso, adolescentes estão em fase de construção de identidade e autoestima, e o cérebro deles responde fortemente a recompensas sociais – o que torna a influência digital ainda mais poderosa.
Pergunto a você: se seu filho visse apenas “vidas perfeitas” diariamente, ele começaria a duvidar do próprio valor?
Riscos para foco e bem-estar
O uso contínuo das redes pode afetar atenção e bem-estar mental. Há evidências de que para alguns jovens o uso intenso se associa a sintomas de depressão e ansiedade, sobretudo quando há comparação social constante.
Além disso, pode haver impacto negativo na autoimagem — quem consome filtros e padrões irreais pode desenvolver insatisfação com seu corpo e aparência.
O papel dos pais — sem superproteção
Ser pai ou mãe hoje significa entender de tecnologia e de saúde emocional. Mas não se trata de controlar cada passo — e sim guiar com consciência.
Dê espaço para perguntas e dúvida
Converse com seu filho sobre o que ele consome: mostre que nem tudo que vê nas redes é real. Pergunte o que ele sente ao ver posts de “vidas perfeitas”. Isso ajuda a desenvolver uma visão crítica desde cedo.
Estimule o valor fora da tela
Incentive atividades fora do mundo digital: esportes, hobbies, leitura, convivência real com amigos. Isso ajuda a construir autoestima baseada em conquistas e relações reais — não curtidas.
Dialogue sobre privacidade e confiança
Quando houver motivos reais — por exemplo, insegurança por parte de um parceiro — pode surgir a vontade de monitorar aparelhos. Em contextos adultos, há quem recorra a ferramentas de supervisão. Por exemplo, há um guia online para investigadores curiosos chamado “como saber com quem a pessoa conversa no messenger”. Esse tipo de verificação geralmente nasce da dor de repetidas mentiras ou traições — e pode ser um ato mútuo de busca por transparência, não apenas reflexo de ansiedade. Mas no contexto de crianças e adolescentes, confiança e diálogo claro têm peso fundamental. Use o monitoramento apenas se houver consenso e sempre explique os porquês.
Estratégias práticas para pais
Aqui vão algumas sugestões para navegar esse desafio moderno:
- Estabeleça “horários sem telas” em casa — refeições, brincadeiras, conversas — sem smartphones ou redes sociais.
- Ensine sobre filtros e edições: mostre que nem tudo que se vê é real, nem finalizado.
- Promova a autoestima fora da aparência: elogie atitudes, habilidades e conquistas, não só aparência física.
- Incentive a expressão real: arte, esportes, hobbies, leitura — permita que seu filho se descubra longe da pressão digital.
- Mantenha o diálogo aberto e honesto: conforto para desabafar, dúvidas respondidas, acolhimento sempre disponível.
Por que vale a pena esse cuidado
Criar filhos em um mundo de algoritmos exige atenção — não para proibir, mas para orientar. Quanto mais consciente for essa mediação, maior a chance de seu filho desenvolver segurança própria, autoestima sólida e identidade autêntica.
O cuidado vale a pena porque, ao ajudar uma criança a navegar pelas redes com consciência, você está oferecendo algo que nenhum filtro, trend ou notificação pode substituir: senso crítico, estabilidade emocional e a capacidade de entender seu próprio valor além das métricas digitais.
Também significa ensinar que a vida real acontece fora das telas — nos vínculos, nas conversas, nas descobertas e até nos erros. Quando os pais acompanham e conversam, as crianças aprendem a questionar, a não se comparar tanto, e a construir uma relação mais saudável com a tecnologia.
No fim, o que realmente importa não é quantas curtidas ele recebe — e sim quantas vezes ele se sente visto, valorizado e amado pelo que é, não pelo que mostra. É nesse espaço de afeto e presença que a identidade floresce, mesmo em meio aos algoritmos.



