Skip to main content

China: o novo «boom» nas viagens aéreas após a pandemia

steward lukas souza unsplash[Foto de Lukas Souza em unsplash.com]

Na sequência da pandemia global que o mundo enfretou nos últimos anos, diferentes países têm recuperado a diferentes ritmos. Na China, os recém-licenciados enfrentam dificuldades em conseguir emprego num mercado de trabalho particularmente dificil. Perante tais adversidades, os cargos de tripulantes de cabine tornaram-se uma possibilidade para muitos licenciados. As companhias aéreas chinesas estão a proceder à maior contratação de pessoal dos últimos três anos – o que torna o enveredar por uma carreira na aviação ainda mais tentador.

Durante a pandemia, com todas as companhias aéreas afetadas por limitações ou proibições, a indústria de viagens aéreas sofreu um grande golpe. Apenas na China, foram dispensados cerca de 11.000 comissários de bordo, uma queda de 11% em relação ao nível pré-pandémico onde os registos apontavam para 108.955 comissários de bordo em 2019, segundo dados da Civil Aviation Administration of China (CAAC). A redução, em grande parte devido à redução drástica de voos, levou muitos tripulantes de cabine a deixar os seus empregos devido a uma queda significativa de rendimento durante a pandemia, já que o número de horas de voo teve um papel significativo no seu salário – um modelo de remuneração já utilizado no passado pela Ryanair.

No entanto, desde o levantamento das restrições derivadas do Covid-19 na China e com o país a reabrir as suas fronteiras, a indústria da aviação voltou ao paradigma anterior e altamente movimentado. Os números mostram que houve um grande aumento no número de voos domésticos de passageiros em março de 2023, em comparação com março de 2022. Mais de 360.000 voos domésticos decolaram em março, o que representa um aumento de 133% em relação ao mesmo período do ano anterior. Tal como em muitos países europeus, os números de 2023 superaram os períodos homólogos de 2019.

Após um período de em espera ao longo do período pandémico, os gabinetes de recursos humanos das companhias aéreas deu início uma grande onda de contratações para atender à procura por voos e fazer face a uma procura ainda maior em 2024. As principais companhias aéreas, como a Xiamen Airlines , China Southern Airlines e Spring Airlines são apenas algumas das companhias aéreas que estão em processo de contratação de pessoal de voo.

Atualmente, o mercado de trabalho na China atravessa um momento menos bom – é um dos piores momentos do mercado de trabalho do país em décadas – especialmente quando se estimam que estejam prestes a aceder ao mercado de trabalho de 11 milhões de recém-graduados. Acredita-se que empresas de setores como tecnologia e educação e imobiliário irão reduzir efetivos numa fase em que a procura está a abrandar. Todos estes aspetos, contribuem para um as vagas na aviação sejam a porta de entrada para o mercado de trabalho de jovens chineses.

As vagas disponíveis concentram-se principalmente em cargos de linha de frente, como tripulantes de cabine, bem como pessoal de segurança e manutenção e apoio em terra. O salário oferecido pelas companhias aéreas pode atingir os 330.000 Yuan (aproximadamente 42.000€), um montante relativamente alto para este tipo de empregos.

A Hainan Airlines, que planeia contratar mais de 1.000 comissários de bordo até ao final deste ano, já recebeu mais de 20.000 inscrições. O salário relativamente alto e a possibilidade de voar ao redor do mundo são particularmente apelativas numa geração nova e, tendencialmente, sem filhos.

Não obstante as previsões para o trafégo aéreo em 2024 sejam animadoras e os voos domésticos já apresentem bons números, os voos internacionais ainda estão a 30% dos níveis pré-pandémicos – no caso de Portugal, a única ligação entre Portugal e a China foi retomada em junho de 2022.

A recuperação dos voos internacionais é vital para a saúde financeira das companhias aéreas chinesas, pois neste momento a solução passa por a aumentar o preços das viagens para compensar a vertente financeira. Os preços altos levam a menos viajantes, preços baixos podem comprometer a saúde financeira – as companhias aéreas chinesas são «forçadas» a jogar à roleta com o seu futuro.