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Regras básicas para um orçamento - Daniela d’Almeida Lourenço

A gestão doméstica passa principalmente pela gestão do orçamento familiar. É indubitável que os orçamentos são apenas isso mesmo, prognósticos antes do jogo; e que tanto nós como os (des)governos sabemos que os orçamentos excedem muitas vezes o planeado. Mas não é nefasto planear.

Não é preciso ser-se contabilista para se conceber um orçamento de gestão doméstica; os nossos pais já o faziam tão bem ou melhor do que nós, mas o mesmo era conhecido como o “fazer contas à vida”. Apesar de muito ter evoluído desde esse tempo, as dificuldades aproximam-se lentamente das desse tempo.

O “fazer contas à vida” não deixa de ser algo difícil, se queremos mesmo que resulte, principalmente num contexto de dinheiro plastificado. O capital individual está fragmentado em contas bancárias, sujeito a débitos directos de crédito à habitação, mensalidades diversas… especialmente nos casos em que se possui contas de débito diferido, esta dificuldade é acrescida de uma descontinuidade temporal que nos confunde. E não podemos só considerar estes gastos maiores: as transacções de baixo valor (por exemplo, portagens), que o são se isoladas, são normalmente descontadas das contas bancárias em lotes significativos, o que aumenta ainda mais o caos nas nossas contas.

A desordem é ainda animada pela incerteza. Como foi mencionado anteriormente, os gastos extraordinários não podem ser planeados, nem orçados. Então como podemos fazer um orçamento daquilo que não sabemos?

E como podemos fazer um orçamento familiar, quando as receitas diferem no agregado e os gastos também?

Seguidamente, são apresentadas regras básicas para calcular o seu orçamento.

Regra básica número 1: saber o que é um orçamento.

Um orçamento consiste numa previsão de receitas e despesas de uma entidade para um determinado período de tempo. Não deixa de ser isso, uma previsão: cabe a si decidir se será uma previsão coerente como a meteorológica, ou como a previsão da sorte pelas cartas e pelos búzios.

Regra básica número 2: objectividade.

Um orçamento deve ser encarado como um reflexo real, sensível a toda e qualquer emenda, ou mesmo esquecimento. Por conseguinte, este orçamento tem de incluir o apuramento cuidado das despesas e receitas até à data.

Regra básica número 3: organização.

É de facto o calcanhar de Aquiles de muitos. A organização é uma grande qualidade, mas que pode ser treinada e aperfeiçoada, com muita força de vontade e dedicação. É uma capacidade especialmente importante no que diz respeito às finanças e às nossas responsabilidades nessa área. Isto reflecte-se na capacidade de guardar e catalogar toda e qualquer facturação, de manter registos inteligíveis das entradas e saídas de dinheiro. Isto inclui aquele cafezinho que bebeu há bocado. Sim, esse gasto menor, contabilizado ao fim do mês, é parte daquele capital que vê desaparecer não sabe como. Passará a saber se melhorar as suas capacidades de registo e facturação, tanto em papel como em formato digital, numa folha de cálculo. Tanto para efeitos de impostos como para activação de garantias, é útil guardar todos e quaisquer talões do que gasta. Mais adiante explicarei como será útil para poupar a curto e médio prazos.

Regra básica número 4: imaginação.

Outra capacidade que deve ser treinada, em todas as áreas da vida. Na área financeira, não só é útil para reduzir as despesas — como se verá adiante — mas para arranjar mais fontes de receita, se as há. De modo geral, é a capacidade de criar e recriar que alegra a rotina humana.

Regra básica número 5: determinação.

Deixar os planos a meio ou não os praticar é o mesmo que nunca ter começado a esboçá-los. Um orçamento familiar, pela volatilidade que o caracteriza, é sempre um trabalho em curso, em progresso. E se determinados passos no orçamento são incontornáveis, há que os tomar, mesmo que lhe custe.

Regra básica número 6: deixar o cepticismo para trás.

O cepticismo é o atrito no sucesso individual. Consiste num mecanismo de defesa contra as vicissitudes que enfrentamos consecutivamente. Não deixa de ser um mecanismo válido para a área financeira, principalmente no que diz respeito à desconfiança face a promessas de rentabilidade imediata e fácil. A máxima popular traduz isso de forma muito verosímil: ninguém dá nada a ninguém. Assim o é. Mas não devemos tomar esta perspectiva quando lidamos com a nossa infinita capacidade de adaptação. É possível sobreviver a qualquer clima de crise económica, tendo as ferramentas certas a serem utilizadas na hora precisa. Contudo, saiba diferenciar o cepticismo do realismo e evite conceber metas incumpríveis.

Regra básica número 7: arredondamentos por excesso

Tanto no dinheiro como no rigor. Se gastámos 14,99€ num livro, para poupar trabalho e tempo, devemos sempre arredondar os gastos por excesso. Ou seja, listar um gasto para cima; neste caso, para 15€. O pior que pode acontecer é seguir a previsão e ao fim do mês sobrarem uns euros, que pode amealhar. Quanto ao rigor, apesar de por vezes chocar com a objectividade, é necessário para permitir um espaço de manobra; na medida em que nos esforçamos para obter um fundo de maneio de 10€, com gastos inesperados de baixo valor conseguimos concretamente 5€. A objectividade e o rigor devem, consequentemente, ser equilibrados.

Regra básica número 8: discernimento.

A última mas provavelmente a mais importante. O discernimento na elaboração de um orçamento alia-se tanto à objectividade como ao rigor. Durante a acepção de regras de redução de despesa, há que distinguir o que “se gosta” ou “gostaria” do que “se precisa” ou do que “faz falta”. Sim, aquele novo álbum do seu compositor preferido foi recentemente lançado no mercado; e usa a palavra “preciso”, para justificar esse desejo. Contudo, é importante delimitar essa necessidade. Precisa mesmo desse álbum para o desenrolar do seu quotidiano ou para a sua formação pessoal ou profissional? Ou acha que pode prescindir desse bem por uns tempos e aguardar que o preço baixe? Os preços de certos artigos, mesmo os de multimédia, podem perder o seu valor de mercado até 50% ou mais depois do tempo útil de lançamento, ou depois do Natal.

Com estas regras básicas, é possível começar a esboçar um orçamento.

 

Excerto de "Mande a crise emigrar" de Daniela d’Almeida Lourenço, um e-book desenhado para uma leitura simples e concisa e para uma aplicação prática generalizada, ou seja, para que seja útil a um vasto público. O manual custa 5,99 Eur e pode comprá-lo na Leya Online em http://www.leyaonline.com/catalogo/detalhes_produto.php?id=57187

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