Vou começar este artigo pedindo a sua ajuda. Peço-lhe que pense na melhor resposta a dar à seguinte pergunta: Qual o melhor presente que podemos dar aos nossos filhos? Em que pensou?
Já fiz esta pergunta a alguns pais, e na grande maioria das vezes, a resposta foi “Amor!”. Sim, é verdade, é o sentir-se amado e desejado pelos pais, pelas pessoas que são para si as mais importantes, que dá à criança um sentimento de confiança suficientemente forte para permitir ultrapassar os desafios inerentes ao próprio desenvolvimento – físico, psíquico e social.
Sendo assim, qual a melhor forma de mostrar aos nossos filhos que são importantes, únicos e especiais? Dar carinho e atenção, dar tempo e boa disposição!
Sim, é verdade, a presença destes “ingredientes” é fundamental para estabelecer com os novos seres que chegaram à nossa vida, uma relação segura, uma relação de amor.
Mas, quer isto dizer, que não devemos limitar os seus desejos? Limitar não poderá conduzir ao pensamento: “Não gostas o suficiente de mim para me deixares fazer o que me apetece, deixas-me triste e frustrado. Sou muito infeliz e mal amado!”.
Pois, eu iria mais longe. Os limites, as regras do que se pode ou não fazer ou dizer, são tão importantes e fundamentais (quando constantes!) que podem conduzir aos pensamentos:
“Gostas tanto de mim, que me queres mostrar o que posso ou não fazer ou dizer. Obrigado por me mostrares o caminho que me levará a ser uma criança, um jovem, um adulto, suficientemente adaptado às regras da sociedade, consciente do que é melhor para mim, capaz de mostrar aos outros o que sou, os meus valores, sem medo de ser rejeitado, capaz de estar sozinho, mas também de ter relações especiais com outras pessoas.”
“Hoje sou independente graças a ti e, também graças a ti, aprendi a ouvir-me e a conhecer-me, aprendi a divertir-me e a arriscar, mas sem perder completamente o controlo e sabendo sempre onde voltar.”
Quem já passou pela experiência de conduzir numa estrada pouco iluminada e sem marcas, sabe o que quero dizer com: “Que bom seria ter as marcas a limitar a estrada, assim é muito mais difícil saber por onde hei-de ir, para poder chegar são e salvo ao meu destino.”
Com as crianças passa-se um processo semelhante, i.e., se a realidade em que estão inseridas for demasiado ampla e sem limites para a exploração e a experimentação, elas sentir-se-ão mais inseguras, pois qualquer ponto do caminho pode ser um perigo que o adulto se esqueceu de sinalizar.
Ao invés, se a criança sentir que é livre para explorar o ambiente, para experimentar comportamentos e movimentos, mas que não pode fazer tudo e chegar a todo o lado, porque ainda não está preparada ou porque é perigoso tentar certos comportamentos – ao nível físico e das relações com os outros, percorrerá um caminho mais tranquilo, com menos sobressaltos.
Em termos práticos, como é que isto se traduz?
Devemos deixar a criança livre para sentir as mais diversas sensações e aqui estão incluídas as boas e as más, as agradáveis e as desagradáveis, mas, simultaneamente, devemos mostrar que há sempre um adulto, capaz de se proteger a si próprio e aos que dele dependem, a orientar o seu caminho.
Devemos proteger os nossos filhos dos perigos, mas devemos também prepará-los para as coisas boas e más que a vida nos traz, para os aplausos e condecorações, mas sobretudo para as ovações, as desilusões e as frustrações.
Vânia Gaspar (Psicóloga Clinica)
Cooperativa Horas de Sonho, apoio à criança e à família
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