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Geronte + Psicomotricidade = Gerontopsicomotricidade?!

A resposta é sim! Mas conhece este tipo de intervenção? Bem, para compreendermos este conceito, importa primeiro entender a etiologia da palavra, separando assim os dois conceitos subjacentes: geronte e psicomotricidade.

Geronte, mais frequentemente chamado de idoso, é uma pessoa com mais de 65 anos de idade nos países desenvolvidos. A Psicomotricidade, de forma simples, é a ciência que estuda questões motoras, psíquicas e afetivas do ser humano.

Desta forma já é possível descrever adequadamente o que é a Gerontopsicomotricidade, que se carateriza por ser uma área da Psicomotricidade, onde o Psicomotricista trabalha de forma preventiva e terapêutica com a população idosa. É uma terapia não farmacologia, que estuda o corpo do idoso em movimento em relação ao seu ambiente externo e interno, sendo regida por três fatores que são o movimento, o psicológico e o afeto. Utiliza técnicas de expressão corporal e plástica, atividades de equilíbrio e coordenação, de praxia fina e global, estimulação da memória e técnicas de relaxação.

Assim, a Gerontopsicomotricidade permite trabalhar o lado psicomotor do geronte, a sua capacidade física, mental e social, proporcionando essencialmente uma qualidade de vida e funcionalidade/autonomia. Esta terapia, com medidas reabilitativas e preventivas, contribuí para o combate ou para a prevenção de doenças mentais e físicas, promovendo uma melhor saúde nesta população.

O Psicomotricista tem competências para trabalhar com idosos sem qualquer problemática, com uma intervenção mais preventiva, mas também apresenta capacidades para realizar um trabalho reabilitativo com gerontes que sofram de demência, Parkinson, perturbações do esquema e imagem corporal, quedas frequentes, AVC, entre outros.

Assim, desta forma, a intervenção pode ter diferentes níveis, tendo em conta os idosos:

  • Primária – Intervenção com idosos saudáveis que tem como principal objetivo evitar possíveis patologias resultantes do processo de envelhecimento (e.g. quedas por dificuldades no equilíbrio dinâmico).
  • Secundária – Intervenção com características reabilitativas, com idosos com ligeiras problemáticas a nível cognitivo ou da capacidade funcional, com o objetivo de manter um bom funcionamento, as capacidades preservadas, estimulando as que estão em fase de deterioração.
  • Terciária – Ocorre quando os idosos já têm um diagnóstico estabelecido e são evidentes os problemas ao nível cognitivo e funcional. Os principais objetivos são desenvolver estratégias para superar dificuldades, de forma a retardar os efeitos da deterioração associada à patologia, promovendo a autonomia na realização de atividades, mantendo a capacidade funcional e melhorando a qualidade de vida.

Salientam-se seis principais fatores psicomotores, que são essenciais trabalhar nesta população, face às perdas evidenciadas com o processo de envelhecimento:

  • Tonicidade: aparecem movimentos descontrolados, rápidos, bruscos e descoordenados ao nível distal e proximal, aparecendo uma rigidez paratónica ao nível dos membros;
  • Equilíbrio: face às alterações sensoriais e perda de força, começam a aparecer alguns desequilíbrios, tando a nível estático como dinâmico, e dificuldades na perceção de obstáculos, levando muitas vezes a quedas;
  • Noção de corpo: surgem dificuldades na consciencialização do próprio corpo, na identificação dos diversos segmentos e no esquema corporal;
  • Estruturação espácio-temporal: há perda de conceitos espaciais e temporais, associadas muitas vezes à detiorizaçao do esquema corporal. Os idosos começam a ter dificuldades em orientarem-se em espaços grandes e desconhecidos e apresentam uma maior dificuldade na velocidade de integração espacial. Ao nível do tempo, começam a ter ritmos mais lentos e dificuldades em relembrar o dia em que estão;

  • Praxia Global: há mudanças ao nível da coordenação, da força muscular e na flexibilidade e elasticidade, afetando por exemplo a marcha;
  • Praxia Fina: verificam-se mudanças nas capacidades motoras finas, com movimentos mais trémulos e inseguros. Há também alterações na destreza manual e dificuldades na pega entre polegar e indicador, assim como na força necessária para a escrita.

Assim, de forma geral, as metodologias utilizadas na Gerontopsicomotricidade tentam neutralizar ou minimizar:

  • Os processos de retrogénese psicomotora;
  • A diminuição dos hábitos motores;
  • A diminuição das capacidades cognitivas;
  • A perda de capacidades sensoriais e percetivas;
  • Problemas emocionais e afetivos.

Mas porque é que a Gerontopsicomotricidade é importante? Porque...

  1. ...permite aos idosos um envelhecimento ativo e saudável, através de sessões saudáveis, com elevado valor psicológico, sobre a forma de atividades e movimento lúdicos;
  2. ...coloca os idosos diante um espaço de vida e atividade, que permite uma proatividade cognitivo-motora;
  3. ...os gerontes são confrontados com alterações nas suas rotinas psicomotoras, tendo maior possibilidade de se adaptar às mudanças que o envelhecimento acarreta;
  4. ...permite a manutenção de uma estrutura funcional adequada às necessidade específicas dos idosos, adquirindo uma tonicidade ajustada, um controlo postural flexível, uma imagem corporal adequada e uma organização espacial e temporal idónea;
  5. ...permite a vivência de atividades de mediação corporal, com recurso á criatividade, à emoção e espontaneidade.

A Gerontopsicomotricidade tem, assim, um papel fundamental na redescoberta do corpo e do seu movimento, na manutenção/recuperação da autonomia, desejo e motivação, permitindo estimular a atividade perceptivo-motora, bem como a capacidade relacional dos idosos.

Mas utilizando menos as palavras caras e simplificando o que simples deve ser, deixo alguns exemplos práticos:

  • Na Psicomotricidade pode-se trabalhar a atenção/concentração, associada ao controlo do tónus, quando se coloca uma música e se pede que o idoso pare, assim que a música cesse. Este trabalho mantém as capacidade essenciais para que o idoso circule na rua com segurança, conseguindo parar na passadeira, quando um carro passa com velocidade.
  • Trabalhando diversos tipos de marcha em circuitos com declives, relevos ou diferentes densidades que representem obstáculos ou as alterações de piso, permite ao idoso manter capacidades motoras e estar adaptado para sair em segurança á rua e ser capaz de circular em pavimentos desnivelados ou subir um passeio, evitando assim um maior número de quedas.
  • Uma atividade em que o utente tem que sequencializar vários acontecimentos, com recurso a imagens, ajuda a que no seu dia-a-dia, consiga por exemplo cozinhar, efetuando todos os passos necessários.
  • Atividades de motricidade fina ajudam o idoso continuar, por exemplo, a ser capaz de apertar os botões da camisa autonomamente.
  • Uma atividade de relaxação, com recurso á consciencialização do corpo e acesso á passividade, permite ao idoso ter melhor consciência de si, ajudando a conseguir controlar-se autonomamente numa situação de stress e ansiedade.
  • Exercícios em que seja necessário consciencializar o corpo e as suas diferentes partes, permite o idoso conhecer-se melhor, aceitar o seu corpo e conseguir exprimir-se da melhor forma.

Em suma a Gerontopsicomotricidade conserva uma estrutura funcional ajustada, promovendo qualidade de vida e atuando na tríade corpo-cognição-afeto.

Mariana Silva
Psicomotricista da Clinica Activamente

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Referências Bibliográficas:

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  • Fonseca, V. (2001). Gerontopsicomotricidade: Uma Abordagem ao Conceito da Retrogénese Psicomotora. In V. Fonseca e R. Martins (Eds.), Progressos em Psicomotricidade (pp. 177-219). Lisboa: Edições FMH.
  • Gonzaléz, J. (2001). Programa de Gerontopsicomotricidad en Ancianos Institucionalizados. In V. Fonseca e R. Martins (Eds.), Progressos em Psicomotricidade (pp. 221-250). Lisboa: Edições FMH.
  • Juhel, J. (2010). La Psychomotricité au service de la personne âgée: Réfléchir, agir et mieux vivre. Canadá: Les Presses de L’Université Naval
  • Martins, R. (2001). Questões sobre a identidade da Prática da Psicomotricidade – As práticas entre o Instrumental e o Relacional. In V. Fonseca & R. Martins (Eds.) Progressos em Psicomotricidade (pp. 29-40). Lisboa: Edições FMH.
  • Modera, M. (2005). A relação interpessoal na Psicomotricidade em Pessoas com Demência. A Psicomotricidade, (6), 43-55.
  • Pereira, B. (2004). Gerontopsicomotricidade: envelhecer melhor – da quantidade à qualidade. A Psicomotricidade, (4), 88-93.
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