Horas de Sonho - A educação para a sexualidade
Desde cedo que nos deparamos com indagações engraçadas (“Mamã, onde está a tua pilinha?”) que, orgulhosos do poder dedutivo dos nossos pequenos, contamos entre risadas em jantares e convívios. Mais tarde surgem as perguntas mais complicadas (“De onde vêm os bebés?”) e um dia damos pelos nossos mais-que-tudo a pedir roupa da moda e a namoriscar no facebook.
Mas a verdadeira questão é - quando devemos começar a preocuparmo-nos com a educação para a sexualidade dos nossos filhos? A verdade é que na puberdade já muitas aprendizagens foram absorvidas pelas crianças, e pode ser tarde para começar a abordar certos assuntos.
Face à exposição que a sexualidade tem por todo o lado, na Internet, nos videoclips, na televisão, nos heróis e modelos dos nossos filhos, muitos pais perguntam-se como educar, garantindo a passagem de valores que os ajudem a tomar decisões saudáveis.
Falamos hoje em dia de educação para a sexualidade (o termo educação sexual entrou em desuso) como um conjunto de práticas e discursos, rituais e mecanismos de socialização existente em todas as culturas conhecidas. O que varia em cada sociedade é o modo de implementação dessa educação (Beillerot, 1982, cit. por Alferes, V. 1997).
“A educação sexual é um processo pelo qual pais e educadores se esforçam para informar e formar os educandos no campo da sexualidade, para que estes possam aceder ao total desenvolvimento do seu ser, como homens e como mulheres, de modo a que sejam capazes de viver como seres plenamente humanos na sua vida afectiva, pessoal e social e, por sua vez, livres e responsáveis.” (Amor Pan, 1997, cit. por Marques, A., Vilar, D., Forreta, F. 2002).
Na realidade, as crianças e jovens aprendem sobre a Sexualidade não maioritariamente pelo que lhes é dito, mas pela observação, pela vivência quotidiana e pela reconstrução e interpretação dessas constatações.
Não tendo ainda informações sobre a fisiologia da Sexualidade, as crianças sabem que os homens ou as pessoas idosas não engravidam pela mera constatação de que não existem gravidezes nuns e noutros, construindo posteriormente teorias próprias para este e outros factos da natureza.
A aprendizagem acerca dos factos sexuais é, portanto, inevitável, revestindo-se de um cariz autónomo e imaginativo: construímos, desde muito novos, os nossos próprios conhecimentos sexuais com base no que observamos, quer seja nas relações familiares, na escola, nos meios de comunicação social e entre os pares (Marques, A., Vilar, D., Forreta, F. 2002).
Ou seja, não só devemos falar com os nossos filhos sobre este assunto como estar preparados para o fato de que eles vão tirar ilações sozinhos pela observação dos comportamentos das pessoas mais próximas – mais uma vez o exemplo é a melhor forma de educar!
Muito importante é responder com a verdade (já ninguém acredita na cegonha ou na história da abelhinha) não transmitir informações contraditórias (faz o que eu digo mas não o que eu faço) e adaptar sempre o discurso à idade, respondendo a todas as questões (não vale o famoso e esquivo “um dia vais compreender!”) que vos são colocadas – se a questão surge é porque o seu filho não é demasiado novo para falar sobre o assunto!
Quando cria um ambiente onde é saudável e normal falar de todos os assuntos de forma aberta e sincera (sem julgamentos!), pode sempre contar com estar a par do que se passa com o seu filho em primeira mão – afinal onde prefere que ele vá buscar a informação de que necessita?
E não se preocupe, não haverão perguntas às quais não sabe responder, afinal tem sempre um pouco mais de experiência no assunto! De qualquer forma, quando as perguntas se complicarem (e vão ser muito criativas, acredite!) não tenha receio de dizer que vai pesquisar e volta a falar do assunto. Se o seu filho já tiver idade para o caso, pode ainda ajudá-lo a encontrar 2 ou 3 sites na Internet com informação fidedigna e de qualidade (ver abaixo sugestões).
Se precisar de ajuda ou quiser dar um empurrão há livros que pode deixar a jeito nas prateleiras e (não tenha dúvidas) eles vão encontrá-los! Um exemplo é o livro do Titeuf, uma encantadora personagem na pré-puberdade que estás prestes a descobrir (com muitas peripécias pelo meio) todo um novo encanto nas raparigas! Existem igualmente alguns filmes com este protagonista no youtube.
Na escola, principalmente a partir do 1º ciclo, é natural que ele venha para casa com informações sobre o tema, já que em Portugal, a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 46/86 de 14 Outubro) prevê que os planos curriculares no ensino básico de todos os ciclos incluam componentes de formação pessoal e social como a educação ecológica, a educação do consumidor, a educação familiar, a educação sexual, a prevenção de acidentes, a educação para a saúde e a educação para a participação.
A disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social (Decreto Lei nº 286/89 de 29 Agosto) é criada como alternativa à Religião e Moral Católica, devendo incluir a educação sexual favorecendo, de acordo com as diversas fases do desenvolvimento dos alunos, a aquisição do espírito crítico e a interiorização de valores espirituais, estéticos, morais e cívicos (Alferes, V. 1997).
Não se esqueça que lhe cabe a si dirigir-se ao professor ou diretor de turma se quiser saber o que está a ser feito nesta matéria!
Boas conversas!
Sites interessantes:
Livros:
Carla Calado (Psicóloga Clínica)
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